📖 Liberdade de Expressão, Cancelamentos e Filosofia: um Debate Necessário

Vivemos uma era em que cada palavra publicada em redes sociais pode se tornar um tribunal público. Para muitos jovens, esse ambiente de cancelamentos parece natural, quase inevitável. Porém, quando olhamos através da lente da filosofia, percebemos que o debate vai muito além de "quem está certo ou errado".

📌 Liberdade e Responsabilidade

Desde a Antiguidade, filósofos discutem o poder da palavra. Sócrates, por exemplo, foi condenado por “corromper a juventude” justamente porque incentivava o pensamento crítico. O caso mostra que o dilema da liberdade de expressão não é novo: o problema não é apenas o que se diz, mas o quanto a sociedade tolera ouvir.

John Stuart Mill, no século XIX, escreveu que até mesmo opiniões impopulares devem ser protegidas, porque silenciar ideias é negar à humanidade a chance de avaliar e crescer. A liberdade, segundo ele, não é ausência de limites, mas a possibilidade de debate aberto sem medo da repressão.

📌 Cancelamento como Sintoma

Hoje, a prática do “cancelamento” surge como um reflexo da hiperexposição digital. Erros, falas mal interpretadas ou mesmo opiniões divergentes podem resultar em punições coletivas — muitas vezes sem espaço para retratação. Aqui, não importa tanto se a causa é de esquerda ou de direita: o ponto é que o espaço público se transforma em arena de punição em vez de diálogo.

Michel Foucault já alertava sobre como o poder se exerce de forma difusa: não apenas em governos ou instituições, mas em redes invisíveis de vigilância social. O cancelamento é uma versão contemporânea desse mecanismo: não precisamos de um Estado censor quando a própria sociedade se encarrega de controlar discursos.

📌 O Olhar de Yury Bezmenov

Yury Bezmenov, ex-agente da KGB que desertou para o Ocidente nos anos 1970, falava sobre “subversão ideológica” e como sociedades podiam ser manipuladas por meio da distorção da verdade. Embora seus alertas estivessem dentro de um contexto da Guerra Fria, há paralelos interessantes com hoje:

  • Quando a informação se fragmenta e as pessoas não sabem em quem confiar, cria-se terreno fértil para manipulação.

  • Quando jovens crescem em ambientes onde o medo de falar é maior do que o desejo de pensar, perde-se a capacidade de julgamento independente.

📌 Falta de Empatia: o novo silêncio

Um ponto ainda mais preocupante é a falta de empatia no debate. Quando alguém erra ou expressa uma opinião divergente, em vez de buscar entender suas razões, o que vemos é o uso de armas tão sujas quanto as próprias mentiras que se combatem: distorção, difamação, linchamento simbólico e até a tentativa de “assassinar” a reputação de um indivíduo sem dar a ele a chance de explicar ou amadurecer sua visão.

A falta de empatia fecha portas: em vez de promover diálogo, instala um muro onde só há hostilidade. E, ironicamente, esse fechamento repete o mesmo erro que se critica: o de silenciar, excluir e punir sem reflexão.

📌 O Desafio dos Jovens

Muitos jovens, sem experiência de vida ou referências históricas sólidas, entram nesse debate de forma binária: ou defendendo totalmente a liberdade de expressão sem considerar danos reais, ou apoiando o cancelamento como única forma de responsabilizar.

A filosofia convida a um terceiro caminho: o discernimento. Isso significa aprender a avaliar contextos, compreender que empatia não é concordância, mas disposição de escuta, e que uma sociedade só amadurece quando consegue conviver com opiniões divergentes — inclusive as que nos incomodam.

✨ Conclusão

O debate sobre liberdade de expressão e cancelamentos não deve ser visto como uma guerra entre esquerda e direita, mas como uma questão fundamental para qualquer democracia saudável. Filtrar ideias, questionar narrativas e, sobretudo, resgatar a empatia são passos essenciais para não repetir erros históricos.

Ou, como lembraria Mill: “A verdade nasce do embate entre opiniões.”
E só haverá embate verdadeiro quando houver espaço para escuta, respeito e compreensão — sem que a diferença de pensamento seja transformada em sentença de morte social.

Bruna Lites

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