Podcast Os Detetives da Arte O caso do maior roubo de arte da história ...
# O Maior Roubo da História da Arte: O Mistério do Museu Isabella Stewart Gardner
Na madrugada de 18 de março de 1990, Boston foi cenário do que se tornaria o maior roubo de arte da história. Treze obras-primas, avaliadas em meio bilhão de dólares, desapareceram do Museu Isabella Stewart Gardner em uma operação que durou exatos 81 minutos. Passados 35 anos, o caso continua sendo um dos maiores enigmas não resolvidos do mundo da arte.
## A Noite que Mudou Tudo
O crime começou como uma cena saída diretamente de um filme. Dois homens vestidos de policiais chegaram ao museu em plena madrugada e bateram na porta. O que aconteceu a seguir foi uma série de decisões que mudaram para sempre a história da instituição.
Richard Abath, o segurança de plantão, cometeu o primeiro erro fatal: abriu a porta. Esta ação ia contra todos os protocolos básicos de segurança, que determinavam não abrir para ninguém após o fechamento do museu, muito menos sem confirmar adequadamente a identidade dos visitantes por outros meios.
Os falsos policiais renderam Abath e o outro segurança presente, iniciando então uma operação meticulosa que se estenderia por uma eternidade em termos de segurança museológica: 81 minutos completos dentro do museu.
## O Saque Calculado
Durante esse tempo, os criminosos levaram 13 peças de valor incalculável, incluindo a joia da coroa: "A Tempestade no Mar da Galileia", de Rembrandt - a única paisagem marinha conhecida do mestre holandês. Levaram também outras obras do mesmo artista e um valioso Vermeer.
Um detalhe curioso da operação revela tanto profissionalismo quanto possível amadorismo: os ladrões levaram as impressões do computador de segurança, mas esqueceram o disco rígido. Este fato sugere ou um plano que não foi seguido à risca, ou o desconhecimento de que os dados reais estavam armazenados no hardware.
## As Teorias do FBI
Jeffrey Kelly, agente aposentado do FBI que dedicou anos ao caso, desenvolveu uma teoria consistente sobre os perpetradores. Segundo Kelly, os executores teriam sido George Reisfelder e Leonard DiMuzio, dois criminosos ligados à máfia de Boston, que chegaram ao local em um Dodge Daytona vermelho.
A teoria aponta Carmelo Merlino, outro chefão do crime organizado local, como o mandante da operação. Merlino teria fornecido até mesmo uma "lista de compras" específica aos executores, explicando a seleção aparentemente criteriosa das obras roubadas.
## A Sinistra Sequência de Mortes
O caso tomou contornos ainda mais sombrios em 1991, quando começou uma série de mortes suspeitas. Primeiro, Reisfelder morreu de overdose, mas Kelly considera a morte suspeita, alegando que o criminoso tinha pavor de agulhas. Semanas depois, DiMuzio desapareceu misteriosamente.
Meses mais tarde, o corpo de DiMuzio foi encontrado, mas as mortes não pararam por aí. Outros nomes ligados ao caso - James Marx e Robert Donat - também morreram em circunstâncias questionáveis. O que parecia ser uma sistemática "queima de arquivo" criou um efeito cascata de medo que complicou drasticamente as investigações.
## A Suspeita da Ameaça Interna
Kelly também suspeitava do próprio segurança Richard Abath, levantando questões sobre a possibilidade de cumplicidade interna. Diversos fatores alimentaram essas suspeitas:
- Abath foi o único a entrar na sala azul naquela noite, de onde também sumiu uma peça: um finial de águia napoleônico
- Pouco antes da chegada dos falsos policiais, ele abriu uma porta lateral do museu por um breve instante, algo fora da rotina normal
- Kelly especula que este gesto poderia ter sido um sinal para quem estava chegando
Existe ainda uma teoria nunca comprovada de que Abath poderia ter um acordo para ficar com a peça da sala azul, mas os ladrões teriam levado tudo, frustrando o plano. Se houve cumplicidade deliberada ou apenas um erro de julgamento gravíssimo, permanece uma incógnita.
## Falhas de Segurança Monumentais
A segurança eletrônica do museu falhou completamente durante os 81 minutos críticos. Nem alarmes nem câmeras de segurança funcionaram adequadamente, seja por falha técnica, sabotagem ou má manutenção dos sistemas. Esta falha deixou a investigação sem registros visuais cruciais do crime.
## O Rastro Perdido
Após deixar o museu, acredita-se que as obras circularam no submundo criminal, passando primeiro por Robert Warrant, um mafioso conhecido, e depois possivelmente para Robert Gentile, apelidado de "The Cook".
A casa de Gentile foi vasculhada múltiplas vezes pelo FBI, que descobriu até esconderijos secretos em sua propriedade. Apesar dos esforços intensivos, nenhuma das peças roubadas jamais foi encontrada. A trilha simplesmente se esfria, criando uma frustração enorme para investigadores e amantes da arte.
## As Molduras Vazias: Um Memorial à Perda
Uma das imagens mais impactantes do Museu Isabella Stewart Gardner hoje são as molduras vazias que ainda pendem nas paredes da sala holandesa. A decisão institucional de manter esses espaços vazios serve como memorial e expressão de esperança.
Ver o espaço onde costumava estar "A Tempestade no Mar da Galileia", com o autorretrato de Rembrandt ao lado "olhando para o vazio", cria uma experiência emocionalmente poderosa. É uma cicatriz visível que se tornou parte da própria história do museu, um lembrete diário da perda e do mistério não resolvido.
## O Enigma Permanente
Trinta e cinco anos depois, as perguntas fundamentais permanecem sem resposta: quem realmente ordenou o roubo? Onde estão as obras roubadas? A recompensa milionária continua oferecida, mas o silêncio persiste.
O caso fascina não apenas pelo crime em si, mas pelo que representa sobre nossa relação com a arte, nossa atração por mistérios não resolvidos e a fragilidade mesmo das instituições mais respeitadas. Como observam especialistas em segurança de museus, a raridade e o renome tornam certas obras alvos inevitáveis.
## Uma Reflexão Sobre Valor e Vulnerabilidade
O roubo do Museu Gardner é icônico porque combina elementos que tocam profundamente nossa consciência coletiva: o valor incalculável da arte, a falha humana, a vulnerabilidade institucional e uma pergunta gigantesca que continua ecoando através das décadas.
É um livro com o último capítulo faltando, uma história que nos lembra que mesmo os tesouros mais bem guardados da humanidade não estão completamente seguros. O mistério permanece vivo, alimentado pela esperança de que um dia essas obras-primas possam retornar ao seu lar e ao público que as ama.
Enquanto isso, as molduras vazias continuam penduradas, testemunhas silenciosas de uma noite que mudou para sempre a história da arte e criou um dos maiores enigmas não resolvidos de todos os tempos.
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