A vida de Han van Meegeren, o falsificador que enganou os nazistas.
A vida de Han van Meegeren, o famoso falsificador de arte holandês, é uma história de talento, ambição, engano e controvérsia, marcada por sua audácia em enganar até mesmo altos oficiais nazistas.
Início da Vida e Carreira Artística
• Han van Meegeren (nascido Henricus van Meegeren) veio de uma família católica de classe média em Deventer, Holanda, em 1889.
• Desde cedo, ele demonstrou interesse pelo desenho, embora seu pai o desaprovasse e o punisse por isso.
• Foi enviado para estudar arquitetura em Delft, cidade natal de Vermeer, mas não completou o curso.
• Posteriormente, ingressou e lecionou na Royal Academy of Art em Haia, aprofundando-se nas técnicas da Idade de Ouro Holandesa.
• Por vários anos, van Meegeren trabalhou legitimamente na arte, criando designs comerciais, esboços, desenhos e pinturas que eram populares na Holanda. Ele viajou pela Europa, ganhando bom dinheiro com comissões de retratos e sua primeira exposição em 1917, onde sua obra "O Cervo" ganhou destaque.
A Virada para a Falsificação
• Apesar de seu sucesso inicial como retratista talentoso, os críticos de arte começaram a desqualificar seu trabalho, alegando que ele não era inovador ou relevante no cenário contemporâneo, dominado por movimentos como o Cubismo e o Surrealismo.
• Essas críticas, que o acusavam de mera imitação e falta de gênio artístico, abalaram profundamente sua autoestima, levando-o a um estado de ansiedade e depressão.
• Determinado a provar o valor de seu talento e a enganar o próprio sistema de arte, van Meegeren decidiu se dedicar à falsificação. Além de vingar-se dos críticos, ele buscava financiar um estilo de vida luxuoso que incluía gastos com drogas, mulheres e álcool.
• Em 1928, ele se mudou para o sul da França para se dedicar à reprodução fiel de obras clássicas
A Arte da Falsificação e Seus Métodos
• Van Meegeren dedicou-se a uma pesquisa meticulosa sobre as biografias dos antigos mestres, suas inspirações, técnicas e assinaturas, além de estudar os materiais usados, como pigmentos (lápis-lazúli, chumbo branco, índigo, cinábrio) e pincéis de pelo de texugo.
• Ele utilizava telas autênticas do século XVII e desenvolveu métodos sofisticados para envelhecer as telas, como a aplicação de baquelite para endurecer as tintas e técnicas de craquelamento (rachaduras) artificial. Para isso, ele assava a tela após a pintura para deixá-la rígida, depois a quebrava para criar rachaduras e, em seguida, aplicava tinta nanquim para preencher e escurecer as fissuras.
• Ele passou seis anos aperfeiçoando sua técnica para garantir que suas falsificações passassem nos testes dos especialistas.
• Van Meegeren escolheu Johannes Vermeer como seu principal alvo por razões estratégicas: havia lacunas significativas na biografia de Vermeer e um número relativamente pequeno de obras atribuídas a ele (apenas 36 pinturas conhecidas), o que tornava plausível o surgimento de "novas" descobertas. Além disso, a crença de que Vermeer teria sido influenciado por Caravaggio também serviu de base para algumas de suas criações.
Sucessos e o Envolvimento com os Nazistas
• Em 1936, ele pintou "A Ceia em Emaús", uma de suas maiores obras falsas, que apresentou como um Vermeer genuíno e até então desconhecido. Dr. Abraham Bredius, um renomado historiador de arte, declarou-a uma "obra-prima de Johannes Vermeer". A pintura foi adquirida pela Rembrandt Society por 520.000 florins (cerca de 4,5 milhões de euros atualmente) e doada ao Museu Boijmans Van Beuningen em Rotterdam, sendo considerada o "centro espiritual" de uma exposição especial em 1938.
• Ele também criou outras falsificações de Vermeer, como "Lady Reading Music" e "Lady Playing Music" (agora expostas como falsificações no Rijksmuseum), e obras no estilo de Pieter de Hooch.
• Durante a Segunda Guerra Mundial, van Meegeren continuou a forjar e vender quadros de Vermeer, como "A Cabeça de Cristo", "A Última Ceia II", "A Bênção de Jacó", "A Lavagem dos Pés" e, notavelmente, "Cristo com a Adúltera". A qualidade de suas falsificações diminuiu drasticamente à medida que seu consumo de álcool e opioides aumentava.
• A maior de suas façanhas durante a guerra foi a venda de "Cristo com a Adúltera" ao líder nazista Hermann Göring por mais de 1,5 milhão de florins, um valor que possivelmente foi o mais alto pago por uma obra de arte na época.
• Embora van Meegeren tenha sido acusado de ter simpatias fascistas e colaborado com o regime para lucro, o filme O Último Vermeer sugere que ele enganou Göring propositalmente.
Prisão, Julgamento e Legado
• Após o fim da guerra, em maio de 1945, "Cristo com a Adúltera" foi encontrada em uma mina de sal austríaca, e um recibo de venda ligou a obra a van Meegeren.
• Van Meegeren foi preso pelos Aliados, acusado de ter colaborado com os nazistas e de saquear bens culturais holandeses, crimes que poderiam levar à pena de morte.
• Para escapar da condenação por traição, ele confessou ter falsificado o quadro e enganado Göring propositalmente.
• Para provar sua história, van Meegeren recriou uma obra, "Jesus entre os doutores", no estilo de Vermeer diante de testemunhas e especialistas no tribunal. Testes químicos subsequentes confirmaram a presença de baquelite em suas pinturas, provando que eram falsificações.
• As acusações de colaboração foram retiradas, e ele foi condenado apenas por fraude, recebendo uma pena de um ano de prisão.
• Han van Meegeren morreu de dois ataques cardíacos em dezembro de 1947, aos 58 anos, apenas seis semanas após sua condenação e antes de cumprir a sentença
Legado e Controvérsia
• O legado de van Meegeren é complexo e controverso. Ele se tornou o segundo homem mais popular da Holanda, atrás apenas do primeiro-ministro, sendo visto por muitos como um herói nacional que enganou tanto os críticos de arte quanto os nazistas. Alguns sugerem que a venda do "Cristo com a Adúltera" foi uma troca por 137 obras holandesas originais, o que o tornaria um salvador do patrimônio cultural holandês.
• No entanto, historiadores apontam que seu principal motivo sempre foi o dinheiro e a manutenção de seu estilo de vida luxuoso, e que a história de ter enganado os nazistas foi uma narrativa que ele fabricou para se salvar.
• Suas falsificações, agora reconhecidas como tal, estão expostas em museus e coleções particulares, desafiando os critérios tradicionais sobre autenticidade e valor artístico. Acredita-se que muitas outras de suas falsificações ainda existam em coleções de arte ao redor do mundo.
Espero que tenham gostado, deixe seu comentário e até uma próxima.
Bruna Lites.
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